sábado, 15 de dezembro de 2012

O Desconexo

Passando de pássaros para hipocondríacos, nada sei do que vos tenho dito
Nada saberei do poder daquilo que já lhes falei
Pode ser que a palavra 'seje' um dia seja
Mas também pode ser que a palavra seja desceje
O que também não impede que eu impende a ser arcaico, seja lá o que aconteça

Pois bem, o que era não deixou de ser pra mim
Vivo a crer num poder que nos precede e visa ser ulterior
Quer seja por bem, quer seja por mal
Nada importa pra quem tem o dom de pensar, nada importa mesmo

Seja imperador de sua própria palavra, mas não seje arbitrário
Seja um vigilante de sua justeza, custe o que custar
Nada é difícil, basta saber

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Última forma de se dizer que ama

 Certas palavras não demonstram o quanto se tenta exprimir. Não se encaixam em contexto algum, até porque não foram feitas para se fazerem presentes ali. Fazer uma tentativa boba de fazer valer o que é dito não supera o que é feito sem antes ter sido prenunciado por verbetes de um dicionário poético. É muito claro a emoção deslumbrante causada por uma surpresa, há nos olhos daquele que se surpreende um show pirotécnico de alegria, um ardor único e, típico de quem se alheia a um discurso exacerbado de palavras repetidas enfadonhamente. Por fim, nada mais justo que desferir gestos raros que cortem a monotonia que afoga o amor em um copo metade cheio de ilusão. Então, faça chover cores num céu cinza, Cubra os degraus da casa com um vermelho flamejante, tudo isto para que se quebre o azul gélido de palavras metade vazias. Por isso, torna-se muito fácil saber que a última forma de se provar o amor que se sente é dizendo que se ama.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Espaçamentos

Pode-se dizer que facilmente se consegue saber quem se é através de cada bater de martelo alheio. É possível saber o que esperam de você, aonde querem que se chegue. Sabem que não existe um 'script' ajustado a todas as situações possíveis de acontecer, ainda sim esperam onisciência de você, ou talvez uma plenitude deslumbrante que englobe uma plataforma extensa de conhecimentos e valores os quais presumam-se utilizáveis para o "todo provável". Ninguém deveria exigir de maneira tão ostensiva essa sapiência abissal sobre as decisões tomadas, quer dizer, ao menos poderiam tomar cada caso minudentemente, considerando o que leva cada qual a chegar a vereditos pessoais, isto é, decisões que esperam ser as melhores. Tem-se muita propriedade em argumentos que demonstram a monstruosidade de uma atitude errada, mas nada se tem de conhecimento do 'porquê das entranhas' terem apertado o gatilho da vontade. O desejo insurge num lapso de tempo despercebido, é também e simultaneamente que, neste espaçamento temporal, nasce e é esquecido a razão de se ter vontade, o ímpeto primário que faz alguém a levar um desejo a cabo. Mais a frente, não é viável se recordar sobre o solo outrora propício a germinar o que hoje é sabido ser fruto podre. Há, por isso, uma exímia necessidade por redenção quer se trate de pecados ou de erros, não há interesse em se discutir o teor de um peso, nesse momento é sabido somente o que se sente, não o que se pretende compreender. É exatamente nesse ponto que se perde a precisão fiel pelo viver no agora, na realidade, passa-se a pensar a ermo, remontando recortes atemporais para juntar o vontade-agir-consequência. Para tanto, é essencial ter uma percepção divina, mais que isso, um desígnio divino que só um amor detém, sendo capaz de desvelar a tecedura de um sentir alheado por muitos. Além disso, deveras entender que alguns argumentos são incontestáveis, descrevem o que acontece apuradamente, tirando o foco do predicado julgador, que muito incrimina ao se apontar como se é ou como se age. Por fim, não vale a pena pensar elaboradamente assim pra se chegar a um zero como resposta, cálculos homéricos, as vezes, levam a nada. É, então, melhor viver desconexo a pensar um tempo presente, dois tempos dispersos, vontades primordiais e consequências inconsistentes.

sábado, 3 de novembro de 2012

Não quero sair da cama

   -Eis que uma janela se abre, você se senta na frente da televisão, mas não quer ficar ali sentado, vendo aquilo. você quer ver a janela se escancarar mais. Daí, As nuvens cobrem o sol, os galhos se batem com mais força, intimamente você sabe que paira no ar um dia incomum. Sua percepção para as coisas mundanas está mais aguçada, você sente a noite chegar, os olhos quererem se fechar para acordarem no deleite do alvor que está por vir. Porém, esta primeira luz da manhã é esperada, não somente pela singela tranquilidade que traz consigo, mas sim pela forma que entra dentro de casa e inaugura um dia repleto de novidades num horizonte que finalmente está pronto para se sentir, no ponto de ser captado. É nesse exato instante que passa pela sua cabeça que Deus decidiu lhe oportunizar com um novo amanhecer, que agora é a hora de se saber o que se passa na mente de cada pessoa que cruza-te o caminho, de ouvir o que a parte mais ferida de cada ser lhe tem a acrescentar. Nota-se a partir daí, uma perspectiva inamovível da vida que lhe é inata, qual seja a alegria que insurge na maneira de se sentir diante das coisas simples. Existe um alívio que somente a alma humana pode sentir, um suspiro profundo no qual inspira-se muito mais que ar aspirado pelos pulmões. Sabe-se do conteúdo daquilo presenciado, não mais a forma, que já fora o mais imperioso, hoje não é mais. Abotoa-se o colarinho da camisa com uma certa destreza, está claro o pretendido com a firmeza de um gesto aparentemente vulgar. O curso do dia avança, o correr do relógio é perspicaz, contudo é fácil de se perceber a tentativa de conter a pressa, de parar pra ver as vidraças dos arranha-céus sendo asseadas, ou mesmo assistir a voracidade estúpida de motoristas que fazem seus motores urrarem na iminência de o semáforo sinalizar o arranque aguerrido de seus veículos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Senhor da sociedade

   Algumas tardes passamos trabalhando com todo o empenho que nosso corpo pode despender. Atravessamos horas a fio sem cessar o raciocínio robusto que permeia o ofício de um homem que aprecia a dignidade de um trabalho. Avaliamos parcelas de tempo disponíveis para podermos dispor de refeições com um pouco mais de qualidade. Alguns passam a ter estômago de avestruz, capaz de ingerir até as pedras da vida com a maior sutileza que se pode imaginar.
   Não é possível supor que toda essa forma de viver seja desdém da providência divina, que não permite que o manto da comodidade acoberte a todos, a fim de que um estrato privilegiado da sociedade disponha de mais tranquilidade. Todavia, tratemos de não colocar Deus nesse contexto, afinal alguns entendem que ele nada tem a ver com a condição humana.
   Constantemente, confronta-se o valor disso com o preço daquilo, a miúdes, será que o prazer disso vale todo esse dinheiro? para alguns sim, para outros não. Isto não convém ser discutido, pois fica a critério das frustrações pessoais de cada um.
   Tem-se em mente o cume a que se pretende chegar, ora no que diz respeito aos desejos mais íntimos, ora nos planos de carreira propagados dentro dos círculos de tradição familiar ou de salvação da pobreza material.
    Indaga-se: por que a necessidade de se abordar tais aspectos da vida de um homem? para que este chegue a se realizar na máxima expressividade daquilo que se entende por felicidade? ou será que é para que estabeleça um marco daquilo que fez em vida?
   Uma coisa é certa, ninguém está na vida à toa, mesmo aqueles que dizem que estão nessa vida a passeio, uma coisa se determinam a fazer: passear pelo campo lúdico da vida. É possível desacreditar severamente de qualquer espécie de vulgaridade "séria". Qualquer filosofia de vida, por mais abjeta que possa ser, conflui para atingir um dos únicos desejos universais, a saber, a alegria perene.

 
 
   
   

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Noz

Queria que Deus falasse como ele vê o que sinto, porque toda vez que tento enxergar com os olhos que ele me deu nada vejo, ou melhor, antevejo certas emoções tentarem tomar forma, porém elas não tomam nada, somente um fim precoce.

domingo, 17 de junho de 2012

A face ríspida

A face dela não é tão suave como no alvorecer aparenta ser
Um passo mal dado é involução
A base de sustento é emoção
-Não, é muito pouco.
A égide é a razão
-Não, é quase nada...
A vaidade degrada o alento
-Não, é pouquíssimo!
Deixo então que a vida fale com seus lábios aguerridos:
- o silênico desnutre mais que qualquer fome já sentida.



sábado, 9 de junho de 2012


Homem, deita aqui que de tu eu gosto
só não tenho certeza se a recíproca é verdadeira
conquanto a dúvida seja atraente, não me interessa saber.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pára de se esconder filho!
Essa luz é limpa
Essa luz é casta
Não posso atestar sua nobreza, pois não é matéria que tenha natureza palpável
Livra-te dessas lentes que te impedem de ver
Livra-te desses olhos que não dormem.

A voz da vez

A vida fala, porém sem trocar em miúdes
Doce quando pobre, limpa quando robusta de rubores
seus olhos estão embaralhados em um jogo de azar
cartão postal ela não tem, postal de felicidade foge do encontro.
Há indubitavelmente uma perspectiva em cada suspiro, há até aquelas que se coadunam, há aquelas que se unem em um conluio;
é, já não há como saber. Caberá a Deus dizer a sua verdade, ou pior, intervir nos sentidos das palavras dos homens;
Pois, hodiernamente não há como se falar no valor daquilo que não tem preço. A pressão social põe-me na dúvida, será que algo assim existe?
é, hão de falar do que não sabem. Hão de falar do amor, ou pior, hão de falar de como amar. Hão de falar da morte, ou pior, de como morrer. Hão de falar do sorriso, ou pior, de como sorrir;
Peço-vos que deixem esse árduo trabalho para a caneta do poeta, este tem o trabalho de assimilar e transmitir a sinestesia da desordem;
Sagacidade, talvez, se tornou um sinônimo perfeito de arrogância
A boca da vez é voraz, o único verbo que provém dela não é doce, é um imperativo com temperamento instável
Por fim, teimo em dizer que dificilmente deixará de haver sangue no caminho, pois a renúncia de um ponto de vista é algo odioso, menos vale a centelha de uma vida.
É, caberá a Deus instituir o travesseiro capaz de fazer dormir o pesar maior dos pesares, a dor que não é apagada pelo tempo, mas sim velada por ele.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Dois dias atrás um erro 
Três dias a frente já não acordei cedo
Neste momento olho para o relógio e não vejo mais garantia de nada
Tem-se tempo sempre na medida do necessário

Passado o tempo não há nada mais a ser provado
Durante o tempo não adianta ficar aturdido 
Porém, apesar de sua inflexibilidade, ele sempre deixa um degrau com a largura precisa para o próximo passo.

É tempo de ser visto, e de ser empapado na alegria e no suor do trabalho
Não é tempo de ficar sem vida, parado, sem arvorar bandeira alguma...
Pois se o tempo passa, o degrau cai e haverá somente o tempo devido da espera do necessário para o mesmo degrau ser reerguido.






quinta-feira, 12 de abril de 2012

Renúncia

Os olhos não estão fundos à toa.
a dor não esconde sua face
O brilho se apaga com palavras pueris, mas dificilmente se nutre com um verbo doce  
Dai a coroa ao rei, que só ele é digno de governar o ninho
pra ele o cachorro não late,
pra ele o sorriso não é sincero.
dai trabalho a quem acorda cedo
e assim se fará luz nos olhos de quem tem a mente forte...
luta, corre, ama e descansa o corpo que carrega tua sorte.
mal amados não sabem que um olhar seco dói
porque quem renuncia o que acredita sabe que o peito é um escudo de porcelana
precisa ser lustrado, precisa ser bonito, do contrário, fica feio e fácil de ser desprezado(quebrado)
Só querem te ver com a guarda baixa, pra você amar quem não te quer bem...

sábado, 31 de março de 2012

O homem e o papel

O homem só precisa se deitar sobre a página da pele
Sobre ela debruçar aquelas memórias que não foram céleres
Precisa muito mais que isso, necessita revivê-las nos alqueires da alma

É, ele precisa ser doce, mas não muito, senão adoece
É bom ser, porém na medida certa...
E de acordo com aquilo que nos apetece

Permita ao homem a alegria de se decompor em papel
Contudo, não deixe em suas mãos muitos lápis coloridos
Para que ele não se perca ao se permitir, há muito tempo todos eles são introvertidos
A maioria só sabe limpar as cinzas desses papeis, outros só usam-os como lençol, e a minoria sabe o momento certo de jogá-lo no lixo para que se cesse a brincadeira.


 

terça-feira, 13 de março de 2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

Púlpito

   Querido, permita que eu suba no teu púlpito, e que recite a necessidade de prospectar todos aqueles ausentes, presentes e indiferentes ao que minto. Na verdade, quero contrastar o doce com o veneno, a moral depurada com o Deus do conveniente. Permita-me ser tolo, ou ao menos, não me negue o seio como respaldo da alegria.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Passada a sociedade a limpo, compreendo a sociedade alternativa que Raul exaltava...

segunda-feira, 5 de março de 2012

A forma

A forma una é um par
Mas dois talheres não compõem etiqueta, o mais belo não temos mãos pra segurar...
a forma una é um par, um casal nos pés da mesa de jantar
A forma una é um par, se mais de um vem à baila é pra vivificar a solidão, e depois estaremos novamente a sós, com os pés juntos no salão.
De que vale a forma, se o pão é insculpido no corpo, e o atrito do cetim haverá de fazer assar o dorso
E o mel não se fará sozinho, pois nesta colmeia há incontáveis subalternos, produzindo em nome do deleite daquela que por condescendência do destino nasceu entronizada.
 Rei, rainha da destreza, verte teu trono em usufruto do novo
Verte tuas pernas ao meu encontro, porque a forma una é a avença do nosso pulsar.

Mercado das flores

Venho a ti propor um dique a tua impetuosidade
De imediato, suponho que propor não é o bastante
Pois ainda que esse nosso sentimento seja longevo, ele não é raro (caro)

Venho a ti após antever nosso desatino
Subornar sua ala mais fraca
Prover seu alento

É, você já notou. Hoje levantei quando o sol estava a pino
E por isso, por hora, não consigo me cingir a olhares
Acordei tarde porque fui dormir tarde, e isso tudo devido à minha ida ao mercado das flores. Lá fui comprar um cinzeiro para flores as  quais não posso sentir o cheiro, e que, assim como nosso pobre sentimento, não posso mais prover-lhes a subsistência.

quinta-feira, 1 de março de 2012

   Não há baú, nem aquele encantado, que tenha espaço pra o que há dentro de mim.
Não há um canto vazio no meu quarto.
-Dois passos pra qualquer lado, meu bem... terás logo que sentar no que por acaso a imaginação permitir.
Não há papiro, nem papel, caneta ou pincel pra descrever o que sinto. Meu quarto mais parece um espaço cenográfico, reservado pra que minha dor não caiba na cena do momento. Está cheio de souvenires, miçangas, velas aromatizadas, poemas sujos, embalagens de biscoito e uma vontade imensa de jogar tudo no lixo. Para então, ver na mão da cartomante, a carta da morte, o signo da renovação.
   Meu ar mais parece um ultraje a culto, a um credo e ao Deus do sol. Enquanto que, as paredes do meu quarto denotam minha imensa desilusão com pessoas que não sabem que certas palavras inibem o olhar despretensioso.

Peito amigo

À frente de quaisquer coisas desse mundo incerto, sabemos de algumas que embora relativamente incertas nos fazem assentar nossa esperança surrada no peito de um grande amigo.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Há uma necessidade imensurável de falar, de se fazer o contraditor, ainda que não seja o apropriado, ainda que não se pense aquilo. Querer balbuciar algo que apalpe a alma, Somente denota a vontade ser visto, e sobretudo, ser lembrado com afinco. Porque hoje há, dentro de cada ser, uma vontade de ser artista, e é por causa dessa vontade sem vasão que mais vale a moldura a imagem propriamente dita.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A fecundidade do olhar

Diante da fecundidade dos teus olhos me senti vencido. Aos poucos, minha percepção, ainda que depurada, não foi perspicaz para vislumbrar a derrota como algo ruim. E assim, algo notório passa por mim despercebido, ao contrário da dor, sobretudo da dor que dói, e que jamais passa fácil e desapercebida de sofrimento, passou-se por entre as minúcias da pele sem deixar nem pétala, nem espinho. Apenas a indiferença dos olhos que perderam, ao menos pra mim, a fecundidade.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Universo controvertido

   Hoje nada terá seu rosto, nada poderá ter sabor de maçã. Visto nosso quadro caído, vejo que é inestimável o lapso temporal da tua demora pra aflorar em mim o cinza. É inafastável a cólera que pusera sob os nossos lençóis, nada podes senão crer que um passo a frente será melhor que olhar pra trás. Contudo, nada ti impede de crer em algo diverso, nada te prende a esse universo do controvertido. É triste, mas a distância aclara, o medo supre, o verso corre sobre o campo livre, e a pele, a pele dorme na sombra da macieira que tanto pretendo derrubar. Nessa hora de cansaço, ainda que contra a vontade, até o detestável serve de conforto. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Na noite, palavras insurgindo na pele
imagens alegres, outras torpes, algumas apenas se formam
Deixando claro o vulto de um amor que passou
Deixando acinzentado as lamúrias que o nutriram

cadeiras sem assento no salão da solidão
desarrumação em cena
saltos melindrosos deixam tocar no ventre a paixão que sobe
Nada importa, nada quero, meu único esmero é com tua beleza

O rebuliço está em cena...
amanha nada saberei de coisas que vivi, de unhas que pintei. nada esta pra vir. e o melhor de cada dia ainda nao vivi... so que com voce por perto posso desvendar tudo que quero pra mim, como o futuro numa flor que esta pra se abrir

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Flores nas mãos

   Ando com flores na mão. Pois que, bem armado posso andar com a mente segura de que nas mãos há boas palavras. Boas razões pra se dar a quem vive atribulado com a robusta desgraça do viver. Posso lhe oferecer uma de minhas mãos para que possamos segurar juntos estas flores, mas jamais poderei ti oferecer todo meu poderio bélico. Sem ele jamais poderia ser manso, jamais poderia surrar os pontos controvertíveis da vida, jamais poderia viver com o sorriso da negação da dor que carrego no peito. Jamais, ao menos no princípio, poderia ser cego pra amar sem notar o tempo que perco ao dar a mão ao incerto.
    É gasta, a pele da mão está gasta, não tens razão em dizer: " que nada, isto é coisa de tolo". O tempo é a face que cada um molda como quer, maquila como quer, estraga como bem entende. Se me concebes como tolo por andar com flores a postas, e com os olhos na vanguarda da chuvas torrenciais. Logo logo, me vingarei quando tiver que passar esta mão gasta no teu cabelo desonroso, e tiver que consolar teu desgosto com meu gosto de andar com flores nas mãos.
   E, se ainda assim, não estiveres pronta para reconhecer a serenidade das flores, restará na minha pele uma, apenas uma, marca da ausência do teu espinho na minha pele.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

As faces

Posso pinçar da tua face uma emoção sã
e ela não se comparará a vivacidade que minha face pode transfigurar 
Pois, na minha face podes sentir o vento advindo da janela do meu abismo, uma saraivada de emoções
as quais não seguem nem a solidão de uma moral bastarda, nem a face pálida do bastardo

Vejo-te pintando tua face para que não a vejam desnutrida
ela não tem marcas, mas a lástima alheia é também a mácula inimiga
que inunda a vertente rósea do ser

Fingir derrubar sem querer, o frasco de perfume na minha tez 
não fará sanar a mácula vilíssima  que os outros em mim projetaram
sequer fará exalar o a minha essência

Porém, prepara-te. vejo na tua face as contrações do parto
então arremate o prazer enquanto te toco, arrebate os destroços da minha face
neste instante em que apalpo teu ventre, espero que concebas a realidade
ou, ao menos, uma de suas faces, ou mesmo, a melhor delas. 



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

"Queria dividir meu corpo em dez páginas em branco, e em cada uma delas escreveria uma história finita e fictícia, entregando-as uma a meus pais, outra a meus irmãos, outra a meus amigos, outra a meus colegas, e as que sobrarem a quem eu achar que mereça um pedaço de mim. Infelizmente, a única página na qual está a história menos ficcional, guardo na tessitura de minha pele e não encontrei a quem doar."

domingo, 29 de janeiro de 2012

Cuidado! quando eu começar a andar sobre tua pele não restará caminho desconhecido...

A pinça

Poderia pinçar dos teus olhos o certo
Deveria crer nos teus olhos como o templo do certo
Atreveria prever em teus olhos o que me faz o mais certo
inútil, teu olhar é inútil para mim.

A acomodação dos corpos

Medo
Transfigurado logo cedo
Passado a limpo no ócio
Calcificado no meu peito

Minha face representa soma
do receio e do grito
Meu corpo perfilado denota um prurido
daqueles que com medo de desacomodar o corpo, o que resta é enrubescer

A mente dissimula, mas o corpo é prevalente
e de nada vale o tempo
acomodados os nossos corpos, ainda que cedo, o tempo não erra
acomodados os nossos corpos na cama, permaneço extasiado.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Minha querida , siga à direita do último quarto do corredor com um carpete persa no chão, ao encontrar uma porta com a maçaneta vermelha, abra-a com cuidado, suba no banquinho que está no canto do sótão, e então acenda a luz enroscando-a até que ela acenda.

O afogamento

Invento perplexidade para evitar a honestidade do simples afastamento. Sou perito em criar um plexo de circunstâncias que inundam-me pouco a pouco, em segundos estou centrado na dúvida que flutua na água que sobe, em minutos estou submerso. A dúvida então paira sobre a água que me cobre, e em uníssono as bolhas explodem na superfície, nelas contido estava o sentimento que em mim emergia. Este tão sórdido, isto é, como o mesmo sólido que fazia peso para que o grilhão do medo se fizesse tenaz. Preso em segredo, pois a dúvida o sol tampava, e já não sabia que cor eu estava, se roxo de angústia, ou roxo de tristeza, mas certo eu estava que sem espelho eu já notara, o ceticismo que em mim batia. De bolha em bolha, de segundo em segundo, a esperança própria de um tolo de mim evadia. E nada certo estava. Enquanto isso, o delírio já assumia sua forma mais sensata, o inverso do que sinto,  uma carta na garrafa, na qual estava escrito: sinto muito, mas você está desenganado. Assim, nenhum consolo nela havia escrito, nenhum sinal de quem busca no mar, que se formou, alguém em perigo. Sequer o Deus da minhas verdade, ou o Deus das verdades que desacredito. Nada nem ninguém pôde me salvar da dúvida que dentro de mim nascia, que à mim tragava de dentro para fora, e à mim negava o próprio alento.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Dorso

A esperança baila acima dos dedos
mais uma vez ela me guiará a uma estrada que finda no dorso da pele
ah, se tuas imagens compusessem a filarmônica que imagino ao vê-las
bastaria isso para robustecer meu desejo, mas ao invés disso, elas arrefecem meu desejo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Pomo

Nega teu cabelo ao meu pomo
e por desleixo, elimina teu prurido no meu ombro.
Meigas inverdades que nos tocam o confim do pensamento

Nega que teu pomo é uma mentira
que teu amor não passa pelas linhas do contorno do céu da minha boca
e estas linhas tu não podes apagar.

Tentar corrigir enquanto tento te abraçar
Mas sabes que palavras não podem amaciar
a pele que foi planta do teu erro, a sede do que em ti é efêmero  

abre pouco esta torneira 
para o barulho anunciar
que o pouco que cai é uma centelha
que só o olhos a podem segurar

Solta tua mão do meu pomo
no meu pomar vem segurar
a fruta que o sonho mais maduro não pôde se assenhorar

Tolhe o meu charme, e me escolhe para passar a mão
o meu peito é território desocupado
é vertente de perdição

Tolhe o meu pomo
e infira o nexo, do meu tatear no teu pomo
do rarear do meu sono, da minha cama mal forrada.


 





A Janela

Não, definitivamente não vou deixar teus pés tocar esse chão. De nada serve aquilo que não mune teu corpo para o salto. Por isso, digo: vem, pula sem deixar ao chão o palpite dado por teus pés. Pule dessa ponte do mundo para os braços desse imundo, desse humano que não assimila o mundo. sorria para fechar os olhos, sorria pra não notar no chão a fraqueza de muitos braços, a falta de destreza para segurar o alvor com os braços. Sorria para se abrir para janela, pois quando esta estiver fechada, a luz não estará por perto. então, espere-me até que eu vá ao quarto, e pegue aquele cetim velho, para que teu impulso não toque esse reles chão.  Deixai no meu lençol a marca dos teus pés. Sorrir não é questão de tempo, abrir a janela é.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Não há pressa para que teu corpo possa descansar sobre o meu
Não há lençol para descobrir a cama
Não há pressa, porque quando o jardim for cercar a varanda 
restará o samba, reinará uma santa
pra garantir o milagre, pois há na comunidade um garoto que não sabe sambar...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Não há pressa para que teu corpo possa descansar sobre o meu
Para que tuas idéias arredias possam lumiar

sábado, 14 de janeiro de 2012

A alma não basta ao ser

Basta de alma, irei deixar a carne escrever páginas de vida. Sem alarde maior do que os olhos que ardem, preciso pôr a verdade na linha. Os móveis precisam ser lustrados, a porta está emperrada e o riso efusivo não mais nutre a feição desta casa.