sábado, 15 de dezembro de 2012

O Desconexo

Passando de pássaros para hipocondríacos, nada sei do que vos tenho dito
Nada saberei do poder daquilo que já lhes falei
Pode ser que a palavra 'seje' um dia seja
Mas também pode ser que a palavra seja desceje
O que também não impede que eu impende a ser arcaico, seja lá o que aconteça

Pois bem, o que era não deixou de ser pra mim
Vivo a crer num poder que nos precede e visa ser ulterior
Quer seja por bem, quer seja por mal
Nada importa pra quem tem o dom de pensar, nada importa mesmo

Seja imperador de sua própria palavra, mas não seje arbitrário
Seja um vigilante de sua justeza, custe o que custar
Nada é difícil, basta saber

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Última forma de se dizer que ama

 Certas palavras não demonstram o quanto se tenta exprimir. Não se encaixam em contexto algum, até porque não foram feitas para se fazerem presentes ali. Fazer uma tentativa boba de fazer valer o que é dito não supera o que é feito sem antes ter sido prenunciado por verbetes de um dicionário poético. É muito claro a emoção deslumbrante causada por uma surpresa, há nos olhos daquele que se surpreende um show pirotécnico de alegria, um ardor único e, típico de quem se alheia a um discurso exacerbado de palavras repetidas enfadonhamente. Por fim, nada mais justo que desferir gestos raros que cortem a monotonia que afoga o amor em um copo metade cheio de ilusão. Então, faça chover cores num céu cinza, Cubra os degraus da casa com um vermelho flamejante, tudo isto para que se quebre o azul gélido de palavras metade vazias. Por isso, torna-se muito fácil saber que a última forma de se provar o amor que se sente é dizendo que se ama.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Espaçamentos

Pode-se dizer que facilmente se consegue saber quem se é através de cada bater de martelo alheio. É possível saber o que esperam de você, aonde querem que se chegue. Sabem que não existe um 'script' ajustado a todas as situações possíveis de acontecer, ainda sim esperam onisciência de você, ou talvez uma plenitude deslumbrante que englobe uma plataforma extensa de conhecimentos e valores os quais presumam-se utilizáveis para o "todo provável". Ninguém deveria exigir de maneira tão ostensiva essa sapiência abissal sobre as decisões tomadas, quer dizer, ao menos poderiam tomar cada caso minudentemente, considerando o que leva cada qual a chegar a vereditos pessoais, isto é, decisões que esperam ser as melhores. Tem-se muita propriedade em argumentos que demonstram a monstruosidade de uma atitude errada, mas nada se tem de conhecimento do 'porquê das entranhas' terem apertado o gatilho da vontade. O desejo insurge num lapso de tempo despercebido, é também e simultaneamente que, neste espaçamento temporal, nasce e é esquecido a razão de se ter vontade, o ímpeto primário que faz alguém a levar um desejo a cabo. Mais a frente, não é viável se recordar sobre o solo outrora propício a germinar o que hoje é sabido ser fruto podre. Há, por isso, uma exímia necessidade por redenção quer se trate de pecados ou de erros, não há interesse em se discutir o teor de um peso, nesse momento é sabido somente o que se sente, não o que se pretende compreender. É exatamente nesse ponto que se perde a precisão fiel pelo viver no agora, na realidade, passa-se a pensar a ermo, remontando recortes atemporais para juntar o vontade-agir-consequência. Para tanto, é essencial ter uma percepção divina, mais que isso, um desígnio divino que só um amor detém, sendo capaz de desvelar a tecedura de um sentir alheado por muitos. Além disso, deveras entender que alguns argumentos são incontestáveis, descrevem o que acontece apuradamente, tirando o foco do predicado julgador, que muito incrimina ao se apontar como se é ou como se age. Por fim, não vale a pena pensar elaboradamente assim pra se chegar a um zero como resposta, cálculos homéricos, as vezes, levam a nada. É, então, melhor viver desconexo a pensar um tempo presente, dois tempos dispersos, vontades primordiais e consequências inconsistentes.

sábado, 3 de novembro de 2012

Não quero sair da cama

   -Eis que uma janela se abre, você se senta na frente da televisão, mas não quer ficar ali sentado, vendo aquilo. você quer ver a janela se escancarar mais. Daí, As nuvens cobrem o sol, os galhos se batem com mais força, intimamente você sabe que paira no ar um dia incomum. Sua percepção para as coisas mundanas está mais aguçada, você sente a noite chegar, os olhos quererem se fechar para acordarem no deleite do alvor que está por vir. Porém, esta primeira luz da manhã é esperada, não somente pela singela tranquilidade que traz consigo, mas sim pela forma que entra dentro de casa e inaugura um dia repleto de novidades num horizonte que finalmente está pronto para se sentir, no ponto de ser captado. É nesse exato instante que passa pela sua cabeça que Deus decidiu lhe oportunizar com um novo amanhecer, que agora é a hora de se saber o que se passa na mente de cada pessoa que cruza-te o caminho, de ouvir o que a parte mais ferida de cada ser lhe tem a acrescentar. Nota-se a partir daí, uma perspectiva inamovível da vida que lhe é inata, qual seja a alegria que insurge na maneira de se sentir diante das coisas simples. Existe um alívio que somente a alma humana pode sentir, um suspiro profundo no qual inspira-se muito mais que ar aspirado pelos pulmões. Sabe-se do conteúdo daquilo presenciado, não mais a forma, que já fora o mais imperioso, hoje não é mais. Abotoa-se o colarinho da camisa com uma certa destreza, está claro o pretendido com a firmeza de um gesto aparentemente vulgar. O curso do dia avança, o correr do relógio é perspicaz, contudo é fácil de se perceber a tentativa de conter a pressa, de parar pra ver as vidraças dos arranha-céus sendo asseadas, ou mesmo assistir a voracidade estúpida de motoristas que fazem seus motores urrarem na iminência de o semáforo sinalizar o arranque aguerrido de seus veículos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Senhor da sociedade

   Algumas tardes passamos trabalhando com todo o empenho que nosso corpo pode despender. Atravessamos horas a fio sem cessar o raciocínio robusto que permeia o ofício de um homem que aprecia a dignidade de um trabalho. Avaliamos parcelas de tempo disponíveis para podermos dispor de refeições com um pouco mais de qualidade. Alguns passam a ter estômago de avestruz, capaz de ingerir até as pedras da vida com a maior sutileza que se pode imaginar.
   Não é possível supor que toda essa forma de viver seja desdém da providência divina, que não permite que o manto da comodidade acoberte a todos, a fim de que um estrato privilegiado da sociedade disponha de mais tranquilidade. Todavia, tratemos de não colocar Deus nesse contexto, afinal alguns entendem que ele nada tem a ver com a condição humana.
   Constantemente, confronta-se o valor disso com o preço daquilo, a miúdes, será que o prazer disso vale todo esse dinheiro? para alguns sim, para outros não. Isto não convém ser discutido, pois fica a critério das frustrações pessoais de cada um.
   Tem-se em mente o cume a que se pretende chegar, ora no que diz respeito aos desejos mais íntimos, ora nos planos de carreira propagados dentro dos círculos de tradição familiar ou de salvação da pobreza material.
    Indaga-se: por que a necessidade de se abordar tais aspectos da vida de um homem? para que este chegue a se realizar na máxima expressividade daquilo que se entende por felicidade? ou será que é para que estabeleça um marco daquilo que fez em vida?
   Uma coisa é certa, ninguém está na vida à toa, mesmo aqueles que dizem que estão nessa vida a passeio, uma coisa se determinam a fazer: passear pelo campo lúdico da vida. É possível desacreditar severamente de qualquer espécie de vulgaridade "séria". Qualquer filosofia de vida, por mais abjeta que possa ser, conflui para atingir um dos únicos desejos universais, a saber, a alegria perene.

 
 
   
   

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Noz

Queria que Deus falasse como ele vê o que sinto, porque toda vez que tento enxergar com os olhos que ele me deu nada vejo, ou melhor, antevejo certas emoções tentarem tomar forma, porém elas não tomam nada, somente um fim precoce.

domingo, 17 de junho de 2012

A face ríspida

A face dela não é tão suave como no alvorecer aparenta ser
Um passo mal dado é involução
A base de sustento é emoção
-Não, é muito pouco.
A égide é a razão
-Não, é quase nada...
A vaidade degrada o alento
-Não, é pouquíssimo!
Deixo então que a vida fale com seus lábios aguerridos:
- o silênico desnutre mais que qualquer fome já sentida.