quarta-feira, 27 de abril de 2011

introspecção

assassina!
introspecção sanguinária
pousou dentro de mim como uma parasita
mas vive como se não o fosse

alimenta-se de mim
come minha alma
e usa minhas lágrimas para deleite do seu banho

impede-me da minha fugacidade
deixando a reflexão para os meus demônios
pobres coitados!

não fizeram nada para merecer algo pior do que mim mesmo
pobres coitados...
 minha pele é só uma camada indisponível pra dor

caíram num palco ávido por cacos
mas também num infindável jogo de espelhos
enfim, caíram em mim.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

julgamentos

corpos sem idéias
 e rostos como espelhos
julgam para inudar minhas gavetas de tristeza

uma flor está munindo a arma
 atiram com amor nos desvios da minha alma
estes já estão além da beira do abismo

de joelho está meu corpo
implorando calma
de joelho sobre meus sonhos
numa planície sutil encoberta por uma nevóa cor de sangue
que vem da relva dos meus desadouros

abram minhas gavetas arranquem-as de mim
assim terão a verdade
a verdade que construíram sob julgamentos.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Farto de sangue impuro

Estou farto da guinada que me deram
despistaram a rua do meu caminho
descunharam o abraço que embora falso me apertava

Por esta má mudança de curso
tornei-me repelente das causas sem custo
vinguei-me em minha própia alma
mas voltei a ser quem nunca fui

De pouco em pouco recobrei o rosto
forcei minhas mãos à afanarem o adeus
destarte, deixa-me ladrilhar esse pesadelo
encantar os monstros com a mesma delicadeza que desencantei-me no medo

Late logo no meu rosto
bate logo no meu corpo com toda tua sensível virilidade
porém deixe as facas da verdade rasgarem o verbo
ele fará a bonança da alegria sangrenta.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sangue e alma

já provei sangue!
quem não provou nunca sentiu o prazer da taquicardia
sentir-se como se estivesse provando do pior dos vicios
pareceu-me que depois de ter provado eu teria que entregar minha alma ao diabo
e junto com ela todos meus prazeres humanos.
Não irei dizer que tem gosto doce senão vou evitar que quem eu quero não prove
vou dissimular pudor e sentar sorrindo ao lado da artéria que jorra.
 Quem nunca triscou perto da idéia cruel de fazer sangrar um sentimento sensível?
se você nunca, então você não é homem, mas sim santo,  e disso tenho pena de você.
Aí que ardor lindo, que ternura sanguinária esse meu prazer primitivo
já adverti, porém acho que preciso ser mais incisivo: necessitamos mais de carne( e sangue)
disponha das minhas partes mais sensíveis e tente rasgar um pouco de amor ou de rancor
felizmente meu corpo só tem uma parte sensível: minha alma
 dela nunca tirarás sangue.

sábado, 16 de abril de 2011

amor a morte

Ainda sim não inventaram coisa mais certa que a vida
depois de tantos futuros supervenientes
tantas cartas de alforria prometidas

Ainda sim não inventaram coisa mais certa que a vida
pois quem a contesta sabe da sua providência inprecindível
ainda há quem a conteste e esses são os que têm mais amor a vida
afinal querem a morte e querendo-a idolatram a vida


Ainda sim reclamam do meu jeito de brincar com a vida
certos de que há coisas certas
certos de que há coisas erradas
certo senão a vida há a morte: cruel e sádia.

a cura das palavras

Agonia,
preciso adimirar a poesia
do tempo, que tenho que catar no vento as vozes de que tento me nutrir
vejo soberbo os lábios profetizarem o sangue
meus olhos, pobres deles que não podem cantar
nem muito menos nutrir
provar da palavra: a difusão incessante
jamais verão, jamais poderão viver de mim uma palavra
dessa minha introspecção, dessa minha calada falta de tudo
dentro do mesmo tronco a vela acende
e o fogo começa a tocar
queimando-me ao som de valsa
nesse passar desses passos começo a me entreter
inoculando a cura do meu desperço sentimento:
 as palavras no papel
virgulas, cadafalsos e alegria.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Subalterno

Listre as poses do seu ego
assim decerto terás um perfume
arraste para abaixo do inferno um desejo impune

Essa vontade quer esculpir teu seio
delegar medo ao pálido para que morra branco, sem cor.
Deturparemos a reverência estética dos tolos

Destrone o rei, dê o cargo ao súdito
ele se fará em ouro, tocará aquilo que o fizeram sentir
dar-te como prazer a um pobre, use-o como lençol
permita vingar em ti o perfume.

 Rasgue-me os veios d'água
escuta escorrer a continência do que consiste na inconstância
escamas brilhantes destes dias pertinentes
deixem-me sair!

Não quero aparentar
permitam-me usufruir desta fraqueza que me banha
refuta-me as noites de distância do teu seio
livre-me dessa falta que retine minha masturbação intelectual

Quero só perfumar teu seio
implorar-te aos pés do teu trono:
deixa-me ser teu subalterno.

Feliz infâme

Destes olhos não quero falar
de tantos que tentaram ilustrar...
e eram só emoção, porque as letras não transfiguram a ânsia pura

Pobres poetas que não sabem do que tratar
pobres também aqueles leigos em tocar no ventre do leitor
têm as idéias ríspidas como os calos do lavrador solitário
sempre se alastrando com as mesmas palavras

Permeando o sexo com a mesma insuficiência categórica
é preciso mais carne, mais desconexão com o lúcido
jamais saberão a história da minha verdade, ou melhor, da minha felicidade
pois melhor do que a inconstância ela é o plano de fundo gritante, minha infâmia.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

zebra

as duas cores da zebra
o contraste do meu desapego
é um campo de sossego que não me atrai
foi uma flor de papel que fiz pra enfeitar o lago da lis

ela afundou dentro de mim
como tantos desejos que fui
agora sou uma joça

o que fazer quando nada falta ainda que vazio?

é assim que vai soar quando for destronado
assim que reluzo a falta que não sinto
um passo já é passado e o que penso será meu reinado
é meu contraste, minha sina.