quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Olhos a divagar

E arrastou-me até a lábia
roubando meu ar com uma sutil guarnição
conservando meus olhos com mãos
nada pôde ser senão uma criatura minguada

As mãos já estavam caladas, os calos impediam os afagos, as garrafas na calçada
e meus olhos definharam na espreita de ver tua dor ser lustrada
teus móveis antigos sujam a sala, não dizem o sexo do amor contido na tua casa
pois que teus olhos que antes em silêncio calava o mundo, agora não fazem se quer a tarde



 

sábado, 17 de dezembro de 2011

O Palco da Meretriz

Estações esparsas. Calos na fronte. Fugi dos entremeios de resignação abastada, e no meio das atribulações fiz a dança das folhas verdes, imunizado-me pela voz imatura dos verdes de meu coração. Vi verdades, porém por mais que elas resvalassem na minha fronte não podia senti-las, não podia vê-las, pois tudo que via estava nos olhos dela, e os olhos dela não estavam em mim. Doía, doía, dóia... mas foi crucial tê-la por perto, ainda que assim não a sentisse, muito se tem ao redor quando na verdade pouco atrai a sinceridade do nosso íntimo. Doía, doía, doía.... ela pouco atraía do meu âmago, mas muito arrancava abruptamente, era apenas aquele rosto esbelto que infudia dúvidas sobre o que eu detinha como certo acerca das minhas emoções. Pouco sabia de mim nessas horas, pouco queria saber, apenas perpassava em mim um desejo de grandeza. Todavia, Doía, doía, doía... não sentia, não via, eram páginas e páginas de palavras torpes sendo escritas na minha testa. Nada podia fazer, nada queria que fizessem. De fato, a querida verdade, quis escondê-la de modo que não a visse e nem lembrasse em que mundo a deixei. Extraí de todo meu intelectuo o suco da ludibriação, mas ele não forneceu a meu ser nem iludiu meu coração com o árdil que eu imaginara ter articulado. Doía, doía, doía... porém continuei firme na minha divagação, como uma atriz fingindo ser meretriz de um palco vulgar, não me restou mais artifícios para encantar, e, dessa forma, quis eu apenas dissimular uma mentira que de tão fiel a ela os outros passassem a se encantar, para que então vendo aquilo nos olhos de terceiros eu me encantasse com minha falta de destreza para não mentir, e assim desacreditasse naquilo que me cerca. Doía, eu quisera ver, quisera que assistissem minha dor, mas não quisera senti-la.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O afastamento do afago

Acorda menina, é sabido que aquilo que sentimos é diferente do que sabemos. O afastamento necessário, o afastamento suposto, o afastamento em decorrência das circunstâncias. Ninguém nunca está pronto para perda, rejeição, afastamento, mas tem horas que não precisamos estar prontos, talvez não devamos estar prontos para essas coisas que nos esfolam os olhos, Deus nos fez assim, e nessa horas, devemos apenas fechar os olhos e ouvir a razão que bate continência na rua vazia que perpassa nosso ilustre coração. Se possível talvez dêvessemos até pôr as mãos nos olhos, para que nossos olhos tornem-se impassiveís a realidade que querem ver. Claro que nada irá falar mais forte do que os trovões que apenas sentimos estrondar dentro de nós, nada irá ser mais visível do que os relâmpagos que de tão sublimes nos cegam a visão. Entretanto, há um soneto guardado dentro de nós, um soneto da razão, que nosso ego o guarda quando o brilho dos nossos preciosos olhos se mostram ostensivos, se fazendo então imprecisos para o que as noites exigem de nós. cuidado menina, abri-os bem na hora devida, porém como uma exímia ilusionista feche-os na hora indevida. tudo fica no seu devido lugar quando subjugado sob a voz da necessidade, se não fica é porque falta-nos a preciosa luz da vazão.