quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Última forma de se dizer que ama

 Certas palavras não demonstram o quanto se tenta exprimir. Não se encaixam em contexto algum, até porque não foram feitas para se fazerem presentes ali. Fazer uma tentativa boba de fazer valer o que é dito não supera o que é feito sem antes ter sido prenunciado por verbetes de um dicionário poético. É muito claro a emoção deslumbrante causada por uma surpresa, há nos olhos daquele que se surpreende um show pirotécnico de alegria, um ardor único e, típico de quem se alheia a um discurso exacerbado de palavras repetidas enfadonhamente. Por fim, nada mais justo que desferir gestos raros que cortem a monotonia que afoga o amor em um copo metade cheio de ilusão. Então, faça chover cores num céu cinza, Cubra os degraus da casa com um vermelho flamejante, tudo isto para que se quebre o azul gélido de palavras metade vazias. Por isso, torna-se muito fácil saber que a última forma de se provar o amor que se sente é dizendo que se ama.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Espaçamentos

Pode-se dizer que facilmente se consegue saber quem se é através de cada bater de martelo alheio. É possível saber o que esperam de você, aonde querem que se chegue. Sabem que não existe um 'script' ajustado a todas as situações possíveis de acontecer, ainda sim esperam onisciência de você, ou talvez uma plenitude deslumbrante que englobe uma plataforma extensa de conhecimentos e valores os quais presumam-se utilizáveis para o "todo provável". Ninguém deveria exigir de maneira tão ostensiva essa sapiência abissal sobre as decisões tomadas, quer dizer, ao menos poderiam tomar cada caso minudentemente, considerando o que leva cada qual a chegar a vereditos pessoais, isto é, decisões que esperam ser as melhores. Tem-se muita propriedade em argumentos que demonstram a monstruosidade de uma atitude errada, mas nada se tem de conhecimento do 'porquê das entranhas' terem apertado o gatilho da vontade. O desejo insurge num lapso de tempo despercebido, é também e simultaneamente que, neste espaçamento temporal, nasce e é esquecido a razão de se ter vontade, o ímpeto primário que faz alguém a levar um desejo a cabo. Mais a frente, não é viável se recordar sobre o solo outrora propício a germinar o que hoje é sabido ser fruto podre. Há, por isso, uma exímia necessidade por redenção quer se trate de pecados ou de erros, não há interesse em se discutir o teor de um peso, nesse momento é sabido somente o que se sente, não o que se pretende compreender. É exatamente nesse ponto que se perde a precisão fiel pelo viver no agora, na realidade, passa-se a pensar a ermo, remontando recortes atemporais para juntar o vontade-agir-consequência. Para tanto, é essencial ter uma percepção divina, mais que isso, um desígnio divino que só um amor detém, sendo capaz de desvelar a tecedura de um sentir alheado por muitos. Além disso, deveras entender que alguns argumentos são incontestáveis, descrevem o que acontece apuradamente, tirando o foco do predicado julgador, que muito incrimina ao se apontar como se é ou como se age. Por fim, não vale a pena pensar elaboradamente assim pra se chegar a um zero como resposta, cálculos homéricos, as vezes, levam a nada. É, então, melhor viver desconexo a pensar um tempo presente, dois tempos dispersos, vontades primordiais e consequências inconsistentes.

sábado, 3 de novembro de 2012

Não quero sair da cama

   -Eis que uma janela se abre, você se senta na frente da televisão, mas não quer ficar ali sentado, vendo aquilo. você quer ver a janela se escancarar mais. Daí, As nuvens cobrem o sol, os galhos se batem com mais força, intimamente você sabe que paira no ar um dia incomum. Sua percepção para as coisas mundanas está mais aguçada, você sente a noite chegar, os olhos quererem se fechar para acordarem no deleite do alvor que está por vir. Porém, esta primeira luz da manhã é esperada, não somente pela singela tranquilidade que traz consigo, mas sim pela forma que entra dentro de casa e inaugura um dia repleto de novidades num horizonte que finalmente está pronto para se sentir, no ponto de ser captado. É nesse exato instante que passa pela sua cabeça que Deus decidiu lhe oportunizar com um novo amanhecer, que agora é a hora de se saber o que se passa na mente de cada pessoa que cruza-te o caminho, de ouvir o que a parte mais ferida de cada ser lhe tem a acrescentar. Nota-se a partir daí, uma perspectiva inamovível da vida que lhe é inata, qual seja a alegria que insurge na maneira de se sentir diante das coisas simples. Existe um alívio que somente a alma humana pode sentir, um suspiro profundo no qual inspira-se muito mais que ar aspirado pelos pulmões. Sabe-se do conteúdo daquilo presenciado, não mais a forma, que já fora o mais imperioso, hoje não é mais. Abotoa-se o colarinho da camisa com uma certa destreza, está claro o pretendido com a firmeza de um gesto aparentemente vulgar. O curso do dia avança, o correr do relógio é perspicaz, contudo é fácil de se perceber a tentativa de conter a pressa, de parar pra ver as vidraças dos arranha-céus sendo asseadas, ou mesmo assistir a voracidade estúpida de motoristas que fazem seus motores urrarem na iminência de o semáforo sinalizar o arranque aguerrido de seus veículos.